sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Igreja: Simbolo ou Simulacro?

Pf. Eduardo Sales


O sociólogo francês Jean Baudrillard abora uma questão muito relevante para a atualidade: O Símbolo e o Simulacro. O Símbolo é a representação de algo real, uma placa de curva à direita apresenta inaliza a curva, a luz vermelha está identificada com a advertência. O Simulacro por sua vez é a imitação do real, não um sinal, mas uma realidade copiada. Jean Baudrillard usa essa reflexão para analisar a sociedade e seus procedimentos, provando assim que os símbolos podem tornar-se simulacros. Na filosofia grega, simulacro traduz eidolon – “ídolo” e opõe-se ao corpo, à realidade que copia, Baudrillard chama esse movimento de suplantação do real (Baudrillard 1978:7).

Diante dessa reflexão apresento a seguinte consideração sobre a Igreja: A igreja de nossos dias aponta para algo real além de si e maior que si mesma ou tornou-se um simulacro procurando suplantar a realidade além e tornar-se uma realidade em si? Quando as pessoas olham a Igreja o que veem? Abertura para uma realidade maior ou um fim em si mesma? Como a identidade depende fundamentalmente dos sistemas simbólicos , o que acontecerá com a identidade dos “crentes” se a os simbolos que a Igreja representa tornarem-se em simulacros?

Para responder a essas perguntas precisaremos entender o real sentido do termo “Igreja”, e como esse termo desenvolveu-se até nossa realidade.

Quando procuramos por textos para fundamentar a doutrina da Igreja nos deparamos com poucos textos específicos sobre a Igreja. No NT são 73 referências, e na grande maioria são usados de modo pronominal. Nos evangelhos somente em Mt 16:18 e 18:17, entretanto estes já pressupoem a Igreja reunida. Nenhum deles declara o que é a Igreja. Advogo unido ao teólogos Pannemberg; Moltmann; Schweitzer e Bultmann, que o sentido real do conceito Igreja está relacionado com a esperança escatológica Judaica.

O primeiro texto para reflexão é Mt 3:1-12, principalmente “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus”. Quando João foi ao deserto para batizar qual era o sentido desse batismo? Não era simples remissão de pecados, como se advoga atualmente, nem batismo para arrependimento no sentido grego e português, mas principalmente o sentido hebraico. No AT, o sentido de arrepender-se é voltar para Deus, diferente do termo grego e português, que envolvem uma noção apenas de passado. O Termo arrepender-se é escatológico, envolve toda a disposição da vida, principalmente a futura. Assim, todos os texto do AT que trazem o termo “arrepender” também são acompanhados da idéia escatológica de voltar-se para Deus, de abandonar a postura de Rebeldia 2Cr 7:14; Jr 15:19; Jr 26:13; Os 14:2; principalmente Joel 2:12,13; o caráter escatológico desses textos é claro, pois Joel e os profetas referem-se àquele dia Jl 2:29; Is 3:18; Is 10:20; Is 22:12; Is 31:7; Os 2:16; “aquele dia será dia de arrependimento”. Olhando para essa perspectiva, o que João Batista quis dizer com arrependei-vos? Não o passado, nem o presente, mas principlamente o futuro! “Arrependei-vos por que está próximo o reino dos céus”. Aqui está a característica de simbolo, apontar para algo maior. A igreja não é eterna, não é em si, mas em Deus, no seu reino. Os Farizeus e Saduceus viviam o simulacro, não entendiam o batismo de João como a preparação para algo vindouro, mas como algo passado e presente, por isso são advertidos a mudar de vida Mt 3:7-8; João não está lanvando os pecados, mas convocando as pessoas à uma nova vida, à uma vida de acordo com o reino vindouro de Cristo. Essa era a maior espectativa judaica, a vinda do reino do messias.

O Segundo texto também diz respeito ao Reino, está em Mt 4:17; ...passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. Jesus identificou a esperança escatológica judaica com a sua própria mensagem, ou seja, a Igreja e o Povo Judeu são simbolos de algo maior, o Reino de Deus. Assim, Jesus tornou o termo “Reino de Deus” como tema principal de sua vida e pregação. Jesus expulsa demônios porque é chegado o Reino de Deus Mt 12:28; o Reino é identificado com o “ceu” e a “vida eterna” Mt 19:4; 21:31; Mc 9:47; quem não receber como uma criança não entrará nele Mc 10:15; dificilmente entrarão no reino de Deus os que tem riquezas Mc 10:23; deveria ser pregado Lc 9:2; a mensagem do reino deveria acompanhar as curas Lc 10:9; será o dia da grande ceia Lc 13:29; e muitos outros textos. Para Jesus não era a presença do reino, mas a espectativa. A vida que tornava-se um simbolo do reino, um sinal do reino, uma mensagem do reino.

O terceiro texto está em Atos 2:38, “Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”. Os discípulos identificaram a Igreja com a esperança escatológica messiânica. Não com a pregação de algo em si, mas com a pregação de algo além, com o anúncio do Reino de Deus. A primeira marca da Igreja não é tornar-se algo em si, mas apontar para algo maior, por isso logo que eram batizados deveriam buscar o dom do Espírito Santo, marca registrada do poder atuante de Deus no Reino Escatológico Joel 2:28-30. Por isso Jesus e os apostolos defendem que a Igreja não pertence mais ao mundo Jo 15:19; Cl 2:20; Cl 3:1; 1Pe 2:11; mas somos concidadãos dos santos, ou seja, do Reino Cl 1:13.

Com esses três textos marcamos a questão principal: A Igreja é o Simbolo de Cristo enquanto proclama o Reino de Deus, e torna-se o Simulacro quando a proclamação distancia-se do Reino.

A Igreja passa a ser usurpadora de Cristo quando abandona a pregação do arrependimento como preparação da nova vida e assume a pregação farizaica dos Filhos de Abraão.

A Igreja toma o lugar de Cristo quando abandona a mensagem de Cristo sobre o Reino vindouro, e substitui por uma falsa mensagem de um falso reino presente.

A Igreja torna-se o simulacro do evangelho quando abandona a mensagem escatológica e passa a pregar as mensagens positivistas do “aqui e agora”, do “peça e receberás”.

A Igreja torna-se um simulacro do evangelho quando para de pregar que a vida do crente deve ser segundo o Reino em detrimento ao mundo e passa a pregar uma vida segundo o mundo.

A Igreja torna-se um simulacro do evangelho quando abandona o centro da Biblia que é a cruz de Cristo, e passa a pregar mensagens periféricas como se fosse o centro. Quando substitui o fim pelo centro, quando a salvação e as benção são mais pregados que a Cruz de Cristo.

Assim, proponho esse texto como reflexão para nossos ministérios, para nossa vida com Deus, e principalmente para nossa relação com a Igreja.

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